Você deve ter ouvido falar no acidente que aconteceu em um porto de Beirute, no Líbano, no dia 04 de agosto, causando uma explosão de proporções inimagináveis... E se eu lhe contasse que as principais suspeitas da causa dessa explosão tenha sido o armazenamento inadequado de uma grande quantidade de um composto químico, muito comumente utilizado em agrotóxicos e explosivos? Ficou curioso(a) para entender melhor essa história e conhecer mais a fundo essa substância? Então continue lendo este texto!
O composto ao qual acabamos de nos referir se chama nitrato de amônio (NH4NO3) e por motivos ainda não explicados, estava estocado no porto de Beirute há aproximadamente seis anos. A explosão provocou grandes estragos, destruindo as regiões mais próximas, estourando vidraças e matando mais de 100 pessoas. A decisão de manter guardada uma quantidade tão grande (2750 toneladas!) dessa substância foi irresponsável, porque suas propriedades explosivas já são bastante conhecidas, não é à toa que ela faz parte da composição de alguns explosivos. A figura abaixo mostra a região do porto de Beirute após a explosão.
O nitrato de amônio compõe também a fórmula de muitos agrotóxicos e fertilizantes, e acredita-se que o aumento da sua utilização possibilitou que houvesse maior produção de alimentos no mundo, salvando muitas pessoas da fome. Atualmente, tem-se discutido muito acerca da utilização dos agrotóxicos e fertilizantes, tendo em vista os seus inegáveis impactos ambientais e o seu prejuízo à saúde humana e animal.
Um dos grandes responsáveis pela potencialidade da produção do nitrato de amônio foi Fritz Haber (1868-1934), um químico alemão que despendeu muito tempo em estudos e pesquisas para auxiliar econômica e politicamente a Alemanha. Talvez você se lembre dele, pois já falamos sobre esse cientista em outro post aqui do site! A seguir você pode ver uma foto do cientista.
Na verdade, Fritz Haber não foi o responsável por sintetizar diretamente o nitrato de amônio, mas ele, juntamente com outro cientista (Carl Bosch, 1874-1940), e com a ajuda de sua esposa (Clara Immerwahr), inventou uma forma de sintetizar a amônia. A amônia é uma substância necessária para a formação do nitrato de amônio, mas até então a sua produção era muito dificultosa, devido às especificidades da reação de formação da amônia. Fritz Haber com seus colaboradores, então, conseguiu desenvolver uma técnica que resolveu esse problema. A figura abaixo mostra uma ilustração do equipamento que permitiu a síntese da amônia em escala industrial.
Assim como a água, o gás carbônico e a glicose, a amônia é uma substância composta, porque apresenta mais de um átomo em sua estrutura: em sua composição há um átomo de nitrogênio e três átomos de hidrogênio. Mas nesse momento, você deve estar se perguntando acerca do que exatamente são os átomos.
Os átomos são estruturas muito pequenas, as quais nunca foram vistas nem com os equipamentos mais avançados. Por conta disso, muitos cientistas desenvolveram inúmeras teorias que tentavam explicar o que seriam essas estruturas. Atualmente, acredita-se que os átomos são partículas constituintes de todas as estruturas existentes, e que se diferenciam um dos outros por algumas características particulares de cada um, como o número de prótons, o número de massa e o número de elétrons.
Os átomos se assemelham aos elementos químicos, e muitas vezes suas definições até se confundem. Mas o que são os elementos químicos?
Os elementos químicos se referem aos átomos que apresentam o mesmo número atômico, que é a propriedade principal de classificação dos átomos.
Dessa forma, quando falamos do hidrogênio, por exemplo, estamos falando de um elemento químico. Todos os hidrogênios têm o mesmo número atômico, que é igual a 1. Nesse mesmo sentido, todos os elementos químicos de número atômico 7 são nitrogênios. Isso quer dizer que é pelo número atômico que os átomos se classificam entre os elementos químicos. A tabela periódica, muito utilizada na química, organiza todos os elementos químicos conhecidos na ordem de números atômicos.
Você deve ter reparado que os nomes dos elementos químicos não aparecem na tabela periódica. Isso acontece porque os elementos são também muito conhecidos por seus símbolos. Por exemplo, o símbolo do hidrogênio é “H”, e o símbolo do nitrogênio é “N”. Provavelmente você também notou que a tabela está organizada por cores. No caso dessa tabela, as cores representam a classificação dos elementos como metais, semimetais, ametais ou gases nobres. Isso será importante para entendermos ainda mais um conceito químico, pensando na amônia.
Agora que você já compreendeu que as substâncias são formadas por átomos, que se classificam como elementos, você deve estar intrigado(a) com a forma de conexão entre esses átomos para formarem as substâncias. Pois bem, os átomos realizam ligações químicas entre si, obedecendo a alguns fatores químicos, para formar as substâncias. Aqui, veremos os dois tipos principais de ligações químicas.
As ligações químicas acontecem entre os elétrons dos átomos, formando substâncias. Na ligação iônica, os átomos metálicos “doam” elétrons para os átomos não metálicos ou para o hidrogênio. A ligação covalente acontece entre os ametais, a partir do compartilhamento de elétrons.
Assim, podemos saber se um composto é formado por ligações iônicas ou covalentes, considerando se seus átomos são metais ou ametais (podemos fazer isso visualizando a tabela periódica!). Por exemplo, a amônia é formada por hidrogênio e nitrogênio. Na figura abaixo você pode ver uma representação de sua molécula. A tabela periódica indica que todos os metais estão em amarelo. Isso quer dizer que o hidrogênio e o nitrogênio não são metais, ou seja, fazem ligação covalente, porque, conforme o quadro acima, os metais fazem ligação iônica!
Pela síntese da amônia, Fritz Haber recebeu o Prêmio Nobel, em 1919. Um ano mais tarde foi acusado de criminoso de guerra, por ter sido o responsável pelo desenvolvimento do famoso gás mostarda, o qual dizimou milhares de pessoas na 1ª Guerra Mundial. A atuação desse habilidoso cientista nos mostra como a ciência é influenciada pela ética, política, economia, entre outros. Tal fato fica também evidente quando pensamos na explosão do Líbano, a qual foi ocasionada devido a uma negligência política, trazendo muitos estragos para toda a população e causando muitas mortes, inclusive.
Por conta disso, devemos sempre apresentar uma visão crítica com relação ao desenvolvimento científico, pois sempre há ideologias e interessas por trás do que a ciência faz. Às vezes, essas ideologias e interesses são positivos à humanidade, outras, não. Neste ponto, lembramos ainda que é um pouco generalista pensar que o desenvolvimento científico é positivo à toda humanidade: muitas vezes, ele beneficia grupos sociais específicos, algo que também nos deve fazer refletir!
(1) Fonte: https://olhardigital.com.br/2020/08/05/noticias/entenda-como-age-o-nitrato-de-amonio-possivel-causador-de-explosao-no-libano/
(2) Fonte: https://pt.wikipedia.org
(3) Fonte: http://web.ccead.puc-rio.br
(4) Fonte: https://www.educabras.com
(5) Fonte: https://dvvlife.com
Referências:
BBC NEWS BRASIL. Explosão no Líbano: De onde veio e para onde ia o nitrato de amônio que causou explosão em Beirute. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53688549>. Acesso em: 04 set. 2020.
MEDEIROS, D. Entenda como age o nitrato de amônio, possível causador de explosão no Líbano. Olhar digital, ago. 2020. Disponível em: <https://olhardigital.com.br/2020/08/05/noticias/entenda-como-age-o-nitrato-de-amonio-possivel-causador-de-explosao-no-libano/>. Acesso em: 08 dez. 2020.
CCEAD PUC-RIO. Tudo se transforma, Reações Químicas, Fritz Haber e a síntese da amônia. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pgt5Az5fnuE>. Acesso em: 14 nov. 2019.
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SCRIVANO, C. N.; OLIVEIRA, E. R. de; LISBÔA, J. C. F.; CARNEIRO, M. C. C. da C.; CASTILHO JUNIOR, M.; GORSKI, R. Ciência, transformação e cotidiano: ciências da natureza e matemática ensino médio (Educação de Jovens e Adultos). 1. ed. São Paulo: Global, 2013.
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