Attico Chassot é um estudioso sobre a educação em Ciências, e traz muitas discussões sobre a relação entre os saberes populares e os saberes científicos, também conhecidos por saberes acadêmicos. Na escrita desse post, vamos nos basear sobretudo em um texto desse autor.
Muitas vezes, pensamos na ciência como a produtora de verdades absolutas e como sendo a única fonte de pesquisa confiável. No entanto, nenhuma das afirmativas é verídica: a Ciência está em constante evolução, e muitos fatos podem ser explicados por outros saberes, sem serem ainda compreendidos pela Ciência.
Os saberes populares às vezes podem ser confundidos com a ideia de senso comum. No entanto, o senso comum se refere a experiências muitas vezes lógicas, e muitas vezes não apresentam de fato um embasamento cognitivo, enquanto que os saberes populares envolvem conhecimentos reais, produzidos por alguns grupos, e que são coerentes com relação a essas realidades sociais.
Tais saberes são construídos empiricamente, através de percepções de questões cotidianas, e são validados de geração em geração, apesar de serem desvalorizados pela academia, muitas vezes, por termos uma ideia excludente de que os conhecimentos acadêmicos sejam superiores, ou mais relevantes, do que outros conhecimentos. Nesse caso, não defendemos que haja uma igualdade dos saberes científicos e saberes populares, mas a valorização de ambos, visando ao reconhecimento dos saberes dos mais velhos e de culturas de menor prestígio.
Nossos avós, pais, ou pessoas que viveram em tempos mais remotos e são próximos a nós, podem nos contar sobre seus conhecimentos e nos surpreender. Uma conversa com essas pessoas pode gerar tantos aprendizados quanto a leitura de um livro, e é por isso que Chassot diz que “Quando um velho morre é como uma biblioteca que queima”.
Mais legal do que ouvir a história que alguém tem a nos contar sobre as vivências do passado, é tentar relacioná-las ao que conhecemos atualmente. Então por que não aprender mais sobre ciência a partir dos saberes populares de nossos entes queridos? São vastos os temas que podem ser relacionados. Entre eles, podemos citar:
A geração da eletricidade por rodas d’água;
Os poços utilizados como fonte de água;
As maneiras de eliminação das fezes humanas;
A conservação dos alimentos;
As técnicas de cultivo;
As formas de moradia;
As lamparinas que iluminavam os ambientes;
Aquelas dicas preciosas das receitas culinárias.
Entrevistando uma pessoa mais experiente, você ainda descobrirá muitos outros saberes populares, que podem, ou não, apresentar explicações científicas. Ainda assim, apenas tentar relacioná-las e aplicar um pouco de nossos conhecimentos das ciências já nos permite um grande aprendizado. Além disso, essa simples conversa pode ser igualmente vantajosa para você e para a pessoa com quem você está conversando.
Geralmente, as pessoas de mais idade se sentem valorizadas quando nos interessamos por essas histórias. Além do mais, muitos laços se estreitam nesses momentos. Para você, essa conversa terá um efeito de rompimento de preconceitos, porque mostrará como os anciãos têm muito a nos ensinar, e que não devemos sentir pena deles (como muitas vezes acontece), mas entender que já viveram muito, e por isso também sabem muito.
Você já tinha pensado nessa perspectiva dos saberes populares relacionados aos saberes acadêmicos? Converse com alguém mais experiente que seja próximo a você, e lembre-nos dos saberes populares que não colocamos no post!
Referência:
CHASSOT, A. Fazendo Educação em Ciências em um Curso de Pedagogia com Inclusão de Saberes Populares no Currículo. Química Nova na Escola. Nº 27, fev. 2008.
Ah, os idosos... eternos guardiões da nossa estória.❤️