Olá, caros leitores! Como vocês estão? Espero que bem...
Quando frequentamos jardins e parques em dias ensolarados é comum observarmos abelhas pousando nas flores e voando ao redor destes ambientes, ou até mesmo quando estamos em piqueniques, certos alimentos também atraem estes insetos. Mas você já se indagou sobre o que são as abelhas? E qual a sua real importância? Neste post você vai aprender mais sobre estes incríveis animais!
Afinal de contas, o que são abelhas e para que servem?
As abelhas são insetos que vem desempenhando um papel muito importante ao ambiente, contribuindo para a sobrevivência da maioria das plantas e de muitas outras espécies de animais, direta ou indiretamente por meio da polinização. A polinização é a transferência de pólen (gameta masculino) de uma planta para o estigma (órgão reprodutor feminino) de outra planta da mesma espécie. As abelhas não são os únicos polinizadores existentes, mas são os principais na maioria dos ecossistemas de nosso planeta.
Em termos evolutivos, abelhas originaram-se de vespas apóides (que estocam o alimento de suas larvas), que em termos de alimentação trocaram hábitos predatórios e carnívoros pela coleta de pólen (pólen é uma ótima fonte protéica) e néctar de plantas angiospermas há milhões de anos devido a adaptações aos ambientes. Angiospermas são plantas que produzem flores e frutos. Atualmente, são conhecidas 350 mil espécies de plantas, e desse total, mais de 250 mil são angiospermas. Algumas referências indicam que este número pode chegar até 325 mil.
Mas há quanto tempo elas existem? Para estabelecermos uma comparação palpável, animais do gênero homo (gênero que incluiu outras espécies de humanos e atualmente incluí o ser humano moderno, Homo sapiens) surgiram há 2,5 milhões de anos na África, e mais especificadamente, nossa espécie há cerca de 250 mil anos neste mesmo continente, enquanto que as abelhas surgiram há cerca de 125 milhões de anos, no fim da primeira metade do período cretáceo (período que ocorreu entre 145 e 66 milhões de anos atrás)! Portanto, somos uma espécie muito mais nova no planeta Terra em comparação às abelhas, que até assistiram a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. Recentemente, um fóssil de uma abelha primitiva, de 100 milhões de anos, foi descoberta e nela observou-se a presença de pólen. Confira a matéria aqui.
Os descendentes destas vespas que mudaram sua fonte protéica, ou se preferir, as abelhas, criaram uma relação de dependência mutualística tão íntima com as angiospermas que sua evolução ao longo destes milhões de anos ocorreu e ocorre de forma indissociável a essas plantas. As abelhas são polinizadoras de 78 – 94% das angiospermas, que dependem de polinizadores para a sua reprodução por meio da polinização, enquanto que as abelhas dependem da polinização para sua alimentação. Tanto abelhas quanto angiospermas estão tão fortemente relacionadas, que a grande diversificação das espécies ocorreu aproximadamente na mesma época - 125 e 140 milhões de anos atrás, respectivamente.
Se você acredita que a melhor coisa que as abelhas fazem para o ser humano é o mel, está muito enganado! As abelhas simplesmente permitem que possamos ter a maioria dos nossos alimentos, que não existiriam sem a sua polinização. A figura abaixo talvez possa explicar de forma mais visual...
Estima-se que atualmente existam 20.000 espécies de abelhas pelo mundo, e no Brasil estima-se a existência de 3.000 espécies. A maioria das abelhas são solitárias. Isso significa que coletam pólen e cuidam de suas larvas sozinhas. Porém, a minoria de espécies de abelhas apresentam diferentes níveis de sociabilidade, podendo apenas se juntar coletivamente em alguns momentos de seus ciclos de vida ou chegando a ser eussociais, ou seja, com grande nível de organização, construindo colônias com muitos indivíduos, diferentes funções bem estabelecidas, de modo que todos cuidam da prole coletivamente. Para as abelhas do Brasil, cerca de 85% são solitárias e 15% apresentam diferentes níveis de sociabilidade.
Como citado anteriormente, as abelhas atuais tem ancestrais em comum com as vespas atuais. A tabela a seguir apresenta a classificação taxonômica das principais famílias de abelhas (existem outras classificações, mas usaremos esta).
Das principais famílias de abelhas expostas na Tabela 1, neste texto focaremos na Família Apidae e suas principais derivações. No decorrer deste post, quando me referir a uma espécie, não apresentarei a taxonomia completa, somente a partir da família. A família Apidae é composta por pelo menos 5.700 espécies de abelhas, sendo que muitas ainda nem foram catalogadas. Essa família contém três subfamílias: Apinae, Nomadinae e Xylocopinae, e estas três subfamílias somam mais de trinta tribos! A subfamília Apinae possue a tribo Apini. Dentro desta tribo está o gênero Apis. O gênero Apis abriga a espécie Apis mellifera, em que a taxonomia e imagem estão representadas no quadro disposto na sequência. Esta espécie e suas subespécies são amplamente conhecidas e usadas para fins comerciais, sendo a espécie de inseto mais estudada do mundo em termos de fisiologia e comportamento!
Atualmente, esta espécie e suas subespécies são amplamente ocorrentes e criadas em todos os estados do Brasil, mas nem sempre foi assim. A Apis mellifera foi introduzida no ano de 1839, pelo padre Antônio Carneiro, no estado do Rio de Janeiro. Este padre deixou a região do Porto em Portugal com 100 colônias de abelhas desta espécie, mas após atravessar o Atlântico, chegou ao Brasil com apenas sete colônias. A introdução de outras subespécies por imigrantes europeus mais tarde no mesmo século, e a introdução acidental de abelhas africanas na década de 1950 pelo professor Warwick Estevan Kerr acarretaram o surgimento da subespécie Apis mellifera scutellata, ou abelha africanizada, que hoje domina todo o Brasil e parte da América.
Neste momento você deve estar se perguntando: mas se as abelhas foram introduzidas apenas no século XIX no Brasil, como a polinização ocorria anteriormente?
As abelhas brasileiras
Como na Europa e na África, a América também possuía abelhas, mas estas eram completamente desconhecidas – pelo homem branco, até este invadir as terras dos nativo-americanos, que já conheciam bem as abelhas daqui. No Brasil, só dentro da família Apidae, temos pelo menos 19 tribos de abelhas brasileiras, apresentadas na tabela seguinte.
Destacaremos aqui a tribo Apini da subfamília Apinae. Dentro desta tribo podemos destacar quatro subtribos para a nossa discussão: Apina, Bombina, Euglossina e Meliponina. É importante destacar que para diferentes autores, estes táxons também podem variar, sendo representados como tribos da subfamília Apinae e não como subtribos da tribo Apini. Para este texto, adotaremos estes táxons como sendo subtribos da tribo Apini, como feito por Silveira; Melo; Almeida (2002).
Apina
A subtribo Apina possui apenas o gênero Apis aqui no Brasil, sendo que esta subtribo é mais diversificada nas regiões tropicais da Ásia e na África. Como citado anteriormente, esta espécie permaneceu fora da América até ser introduzida aqui. Todas as suas espécies são eussociais e constroem seus ninhos expostos ou em cavidades existentes.
Bombina
Outra subtribo é a Bombina. Esta subtribo possui apenas o gênero Bombus. São estimadas para este gênero 250 espécies, e estas se espalham originalmente por todos os continentes, exceto pela Austrália. Existem no Brasil apenas seis espécies deste gênero, todas do subgênero Fervidobombus. São em geral solitárias, mas podem adquirir comportamento social e até construir colméias no chão com alguns indivíduos de sua espécie. Estas abelhas se caracterizam por serem mais robustas, maiores em tamanho, bastante peludas e com um zumbido bastante alto. Lembrou de algum inseto que já viu voando por aí? Exatamente! Aquele “zangão” que parece um helicóptero quando passa perto de você na verdade é uma abelha! Mais especificamente a Bombus (Fervidobombus) morio, também conhecida popularmente por mamangava ou mamangaba.
A abelha mamangava ocorre naturalmente em território brasileiro, e se você gosta de maracujá (Passiflora edulis), deve muito às mamangavas, afinal estas abelhas são as principais polinizadoras desta planta.
Essa abelha pode assustar qualquer um quando passa por perto, é verdade. Porém deveríamos ficar tranquilos: ela é extremamente pacífica, e só ataca quando está se sentindo extremamente ameaçada. Uma curiosidade: a picada desta abelha é extremamente dolorida, muito mais do que a picada das abelhas do gênero Apis, apesar de que isso é muito raro de acontecer.
Euglossina
Outra subtribo são as abelhas Euglossina, conhecidas popularmente por serem polinizadoras de orquídeas. Estas abelhas possuem em geral aparência colorida metálica bastante viva, variando de azul até verde.
Esta classificação “polinizadora de orquídeas” popular não está completamente incorreta, afinal os machos desta subtribo coletam substâncias aromáticas de orquídeas.
Esta subtribo possuí cinco gêneros, sendo estes Aglae, Eufriesea, Euglossa, Eulaema e Exaerete. A maioria de suas espécies são abelhas solitárias, mas algumas Euglossa e, todas as Eulaema constituem colônias parcialmente sociais, por assim dizer, com várias fêmeas juntas, mas cada uma cuidando de seus ovos. Abelhas do gênero Aglae e Exaerete são parasitas de outras abelhas! Confira no quadro abaixo as informações acerca da espécie Exaerete smaragdina, parasita de abelhas Eulaema e Eufriesea.
Bom pessoal, aqui termina a primeira parte do nosso post sobre as abelhas. O que acharam? Na segunda parte deste tema, focaremos nosso olhar para a grande subtribo Meliponina, ou as abelhas indígenas sem ferrão (explicaremos a interessante origem deste nome popular também). Além disso, comentaremos sobre o grande risco ambiental e econômico envolvendo o desaparecimento das abelhas. Aguardem! Até mais!
(1) Fonte: ALENCAR, A.; UIP, E. [s.d.]. Disponível em: <http://www.ambientelegal.com.br/morte-de-abelhas-compromete-producao-de-alimentos/>.
(2) Fontes: SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002; Disponível em: <https://bugguide.net/node/view/3076>.
(3) Fonte: Silveira; Melo; Almeida (2002) e SOUZA (2007). Imagem: Lilian Maria de França.
(4) Fonte: Silveira; Melo; Almeida (2002).
(5) Fonte: Silveira; Melo; Almeida (2002) e da Silva et al (2014).
(6) Fonte: Silveira; Melo; Almeida (2002).
Referências utilizadas
ALENCAR, A.; UIP, E. Morte de abelhas compromete produção de alimentos. Ambiente Legal: Legislação, Meio Ambiente e Sustentabilidade, [s.d.]. Disponível em: <http://www.ambientelegal.com.br/morte-de-abelhas-compromete-producao-de-alimentos/>. Acesso em: 03, out. 2020.
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CASTRO, Lívia Cabral de. Abelhas eussociais (Hymenoptera, Apidae) que ocorrem em jardins urbanos em Juiz de Fora, MG: recursos florais e atividade de voo. 2009. 51 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas: Comportamento e Biologia Animal, Icb – Instituto de Ciências Biológicas, Ufjf, Juiz de Fora, 2009.
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MICHENER, C. D. The Bees of the World. 2nd ed. ed. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2007.
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SILVEIRA, F. A.; MELO, G. A. R.; ALMEIDA, E. A. B. Abelhas Brasileiras: Sistemática e Identificação. 253 p. 1 ed. Belo Horizonte, 2002.
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SOUZA, D. C. Apicultura: Manual do Agente de desenvolvimento Rural. 2. ed. Brasília: SEBRAE, 2007.
Ah, as abelhas... sempre falo com as crianças que as abelhas têm um importante trabalho a fazer... e como! Na minha horta planto sempre flores para atraí-las propiciando a polinização. 😊