Magia?! Nada disso, a transformação de matéria orgânica é ciência!

Como transformar matéria orgânica através de uma composteira?

Olá caros leitores! Como vão? Espero que bem... Na maioria das vezes, ouvir sobre problemas ambientais é desconfortável e por vezes tendemos a ignorá-los, pois para resolver estes problemas é necessário, também, mudar nosso cotidiano. É claro que os problemas ambientais não são poucos. Podemos citar, por exemplo, a criação de bovinos aqui no Brasil, que além de levar à destruição de florestas nativas e a um assustador consumo de água potável, libera uma quantidade imensa de gases extremamente prejudiciais à atmosfera, contribuindo enormemente para o aquecimento anormal do planeta Terra. Só este problema citado, a criação de gado, gera inúmeros outros problemas ambientais.

Outro problema que nos envolve diretamente é o lixo. Mas o que é lixo? Podemos dizer que lixo é todo o objeto que produzimos e que julgamos não ter mais utilidade. Mas eles de fato não têm mais utilidade? É algo para refletir. Desta forma, quando desejamos jogar fora nosso lixo, será que estamos descartando da forma correta? Na verdade, o que na maioria das vezes acontece, é que apenas o tiramos do nosso campo de visão, e mandamos esse lixo para locais que criamos para isso e nomeamos “lixão” (lixões, diferentemente de aterros sanitários, são depositados a céu aberto).

“Lixão” e cidadãos que obtém sua renda através do lixo.

O Brasil tem altos índices de destinação incorreta de lixo. Uma pesquisa mostra que 49,9 % dos municípios brasileiros não destinam seus resíduos corretamente. A pesquisa também mostra que 17,8 milhões de brasileiros não têm acesso à coleta seletiva, parte crucial da destinação correta de resíduos. Em 2018 o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de lixo, um crescimento de 1% em relação à 2017. Em media, foram 216 mil toneladas de lixo por dia!

Quando falamos de lixo urbano, estima-se que 60% dele é formado por resíduos orgânicos. Sabe os restos de comida que sobram no seu prato ou as cascas de frutas que você joga fora? Estes são os resíduos orgânicos, mas comentaremos adiante de forma mais aprofundada. Normalmente, o lixo reciclado é separado e descartado em locais diferentes dos resíduos orgânicos, e é essencial fazer essa separação. Todavia, você já se questionou o que podemos fazer com o lixo orgânico que é justamente a maioria do lixo produzido nas cidades? Neste post, apresentamos uma alternativa de reutilização de resíduos orgânicos. Por meio de um processo chamado compostagem, no qual é possível transformar “lixo” orgânico em um material altamente nutritivo para plantas! Bora saber mais?

O que é matéria orgânica?

Mas o que é matéria orgânica? Podemos definir materiais orgânicos como sendo aqueles que contêm átomo(s) de carbono sendo protagonista nas estruturas de suas moléculas. Com esta definição, podemos concluir que materiais orgânicos podem ser tanto a madeira como os plásticos dos utensílios que usamos. Até mesmo as proteínas que constituem as estruturas de seu cérebro e o restante de seu corpo, possuem o carbono, portanto podem ser definidos como materiais orgânicos.

O que é compostagem?

No processo de compostagem temos o resíduo orgânico que você descarta, sendo transformado em um material orgânico que contribui para a melhora do solo. Mas como isso acontece? Podemos definir a compostagem como o conjunto de técnicas que têm como objetivo reproduzir o processo de decomposição aeróbica (que envolve a presença abundante de gás oxigênio) de matéria orgânica de forma controlada com o intuito de produzir outro material orgânico que, ao ser adicionado ao solo, melhora suas características físicas, físico-químicas e biológicas. Melhorando estas características do solo, os adubos minerais são melhores absorvidos pelas plantas, deixando assim o solo melhor para o cultivo. Resumindo, compostagem é a decomposição controlada de matéria orgânica para se produzir outros materiais orgânicos capazes de adubar a terra. Em outras palavras, temos na compostagem uma transformação de matéria orgânica.

A compostagem deriva de um processo natural de decomposição. Em ambientes naturais, a decomposição não tem um tempo definido e depende muito de condições de temperatura, umidade, aeração (devido a quantidade de oxigênio), e pH (pH é uma medida do quão ácido pode estar um sistema, neste caso o material a ser composto). Essas condições também influenciam a compostagem, e para este processo ocorrer, é necessário controlá-las na nossa composteira.

Materiais orgânicos para a compostagem

Todos os exemplos citados no tópico “O que é matéria orgânica?” são de fato materiais orgânicos. Porém, para a compostagem, apenas alguns materiais orgânicos são utilizados:

Materiais orgânicos que podem ou não podem ser utilizados na compostagem. (1)

Perceba que todos os itens na imagem acima são, no fim, matéria orgânica, e são decompostos e degradados na natureza por diferentes organismos. Mas para as técnicas de compostagem que estamos mencionando aqui, apenas alguns materiais orgânicos são recomendados.

Os materiais orgânicos produzidos após a compostagem são conhecidos como húmus, e esse por sua vez é uma forma estável que a matéria orgânica se organiza. Os humos são produzidos na compostagem pelos microorganismos envolvidos neste processo, que são bactérias e fungos. Minhocas também podem participar do processo de compostagem denominado vermicompostagem. A compostagem deve ser, como citado anteriormente, aeróbica, pois um dos ingredientes necessários para os micro-organismos conseguirem realizar a compostagem é o oxigênio.

A técnica de compostagem

A compostagem se iniciou na China, onde agricultores empilhavam restos de processo agrícola e dejetos, e aguardavam até este material atingir certa estabilidade, para então ser utilizado em suas plantações. Na Índia em 1920 surgiu a idéia de unir estes materiais com folhas, palhas e esterco. Esta mistura era revirada duas ou três vezes periodicamente, para melhor aeração. Até a década de 1960 já haviam sido desenvolvidos muitas outras técnicas e diversos sistemas de compostagem.

Atualmente, a compostagem pode ser utilizada em muitos âmbitos, sendo estes industrial, agrícola, urbano e doméstico. Todos eles se utilizam do mesmo princípio natural, mas realizam o procedimento de forma diferente, em maiores ou menores proporções. Neste post, mostraremos o processo genérico e como realizar ele de forma doméstica.

Compostagem em diferentes âmbitos. (2)

A técnica de compostagem é baseada em intercalar camadas de resíduos orgânicos com serragem, palha ou folhas secas (para controlar a umidade) e terra. Podem ser adicionadas minhocas para acelerar o processo, mas elas não são os principais agentes decompositores.

Como ocorre?

Tudo ocorre em duas fases: a fase ativa ou fase 1 e a fase de cura ou fase 2. Na fase ativa ou bioestabilização, ocorre um aumento da população de bactérias e de fungos juntamente com um aumento da temperatura do sistema, podendo chegar a 60 °C em certos momentos. Nesta primeira etapa a maioria dos materiais é consumida e degradada pelos microorganismos. É nesta etapa que ocorre a degradação de polímeros naturais, como a celulose, presente em todo material vegetal na composteira. Falaremos de forma mais aprofundada sobre polímeros na próxima publicação. A celulose é um polímero natural que as plantas utilizam para construção de suas estruturas corporais. A imagem abaixo apresenta de que forma estes polímeros se encontram na planta.

Exemplo de material que é degradado durante a compostagem, o biopolímero celulose. (3)

A segunda etapa, ou fase 2 é a de cura ou maturação, onde as substâncias húmicas são produzidas. Se a maturação não for completamente concluída, o composto imaturo pode ser perdido, pois a relação ideal entre carbono e nitrogênio (30 de carbono para 1 nitrogênio) pode estar alterada. Se a relação for inferior, há produção de amônia, uma substância que é tóxica às plantas.

É difícil definir o tempo destas duas etapas, pois o tempo varia com a variação de temperatura, aeração, quantidade de organismos decompositores, pH e outras variáveis.

Conforme ambas as fases ocorrem, a água presente nos resíduos orgânicos é utilizada pelos microorganismos e devolvida ao sistema. Conforme vai se acumulando, esta água vai descendo a composteira, chegando até a caixa de baixo, levando junto alguns nutrientes valiosos. Na compostagem domestica este líquido, nominado composto líquido, é coletado no fundo da composteira e também pode ser utilizado na adubação, e até como pesticida natural!

Como fazer a compostagem na sua casa?

É possível realizar a compostagem em casa, mas para isso, é necessário possuir uma composteira. A imagem abaixo ilustra as principais partes e suas funções de uma composteira doméstica.

Estrutura de uma composteira e onde ocrrem as fases da compostagem. (4)

As composteiras podem ser compradas, existindo diversos modelos no mercado, como os abaixo apresentados.

Exemplo de composteira doméstica comercial. (5)

Entretanto, é possível reutilizar baldes com tampas para construir a sua composteira, e até customizá-la com as cores que você deseja!

Exemplos de customização de composteiras não comerciais. (6)

Você pode conferir conteúdos de como construir composteiras domésticas aqui, aqui e aqui, e também pode verificar como utilizá-las aqui e aqui.

Ter uma composteira na sua casa ou apartamento apresenta muitas vantagens, pois além de contribuir com menos resíduos destinados incorretamente e produzir adubo orgânico em forma sólida e líquida para suas plantas, você terá um pequeno laboratório de bioquímica super interessante dentro da sua casa, no qual você poderá acompanhar de perto todas as etapas deste processo incrível!

Você já sabia sobre a compostagem? Ficou com vontade de realizar? Se quiser, deixe nos comentários suas impressões sobre o tema. Até mais!

(1) Imagem adaptada de: https://www.socialbauru.com.br/2019/05/10/beneficios-compostagem-bauruenses/

(2) Fontes:

• Industrial: https://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/afinal-por-que-optar-pela-terceirizacao-da-compostagem-de-residuos

• Agrícola: https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/129/compostagem-de-residuos-organicos-para-uso-na-agricultura

• Urbano: https://cepagroagroecologia.wordpress.com/2015/07/31/maior-cidade-do-pais-incorpora-compostagem-em-suas-iniciativas-de-gestao-de-residuos/

• Domestico: https://verdesmarias.eco.br/microrrevolucao/guia-facil-de-composteira-domestica/

(3) Imagem adaptada de: https://www.researchgate.net/figure/Structure-of-plant-cellulose_fig1_340136481.

(4) Imagem adaptada de: https://lar-natural.com.br/como-fazer-compostagem-domestica-passo-a-passo/

(5) Fonte: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/70-homes/2089-tipos-de-composteira

(6) Imagem adaptada de https://www.oudiserbrasil.eco.br/single-post/2020/06/03/Como-fazer-uma-composteira-caseira-passo-a-passo e https://br.pinterest.com/pin/836191855789196841/

Referências utilizadas

BALDOTTO, MarihusAltoé; BALDOTTO, Lílian Estrela Borges. Ácidos húmicos. Revista Ceres, v. 61, p. 856-881, 2014.

COWSPIRACY: O segredo da sustentabilidade. Direção de Kip Andersene eKeegan Kuhn. USA: AUM Films, 2014.

GANDRA, Alana.Quase metade dos municípios ainda despeja resíduos em lixões. Agência Brasil, Brasília, 05 ago. 2020 Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-08/quase-metade-dos-municipios-ainda-despeja-residuos-em-lixoes. Acesso em: 1 nov. 2020.

HERBETS, Ricardo André et al. Compostagem de resíduos sólidos orgânicos: aspectos biotecnológicos. Revista Saúde e Ambiente, v. 6, n. 1, p. 41-50, 2005.

OLIVEIRA, Arlene Maria Gomes; DE AQUINO, A. M.; CASTRO NETO, Manoel Teixeira de. Compostagem caseira de lixo orgânico doméstico. Embrapa Agrobiologia-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2005.

SOUZA, Ludmilla. Brasil gera 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Agência Brasil, Brasília, 08 nov. 2019. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-11/brasil-gera-79-milhoes-de-toneladas-de-residuos-solidos-por-ano. Acesso em: 1 nov. 2020.