Hoje trouxemos um post em comemoração ao Halloween! Ficou curioso/a? Então não deixe de ler esse texto!
Na Europa, o Século XVIII foi promissor com relação aos avanços científicos, e era comum que a comunidade da época trouxesse às discussões do cotidiano, assuntos relacionados à Ciência. Nascido na Itália, médico e filósofo, Luigi Galvani (1737-1798) viveu nessa época. Seus trabalhos tiveram muita importância para o desenvolvimento da Ciência. Veja abaixo uma imagem de Galvani.
Esse cientista acreditava que a eletricidade pudesse ter alguma influência terapêutica, e esses aspectos estavam ligados aos estudos de anatomia e de fisiologia do médico. Ele iniciou os seus trabalhos tentando encontrar uma explicação relativa a um comportamento elétrico nos nervos que gerasse movimentos musculares. Para isso, ele realizou inúmeros experimentos utilizando sapos, principalmente, e essa pesquisa foi levada pelo cientista até o fim de sua vida.
Esse já era um objeto de estudo de outros cientistas e pesquisadores na época, e o interesse de Galvani no assunto fazia sentido devido à sua formação na área da medicina. Sua escolha de trabalhar com sapos se refere à facilidade de separação e localização dos nervos e à fácil e duradoura (depois da morte) visualização da contração de seus músculos. O processo de preparação dos sapos para os experimentos era bastante sistemático, e o cientista, em algumas publicações, lembrou da importância desse cuidado, porque qualquer variação poderia trazer resultados diferentes. Até a idade biológica e as condições físicas dos sapos influenciavam nos experimentos.
Nas experiências científicas, esse rigor deve sempre ser estabelecido e cumprido, visto que a reprodutibilidade dos resultados é essencial. Inicialmente, os experimentos de Galvani ligavam os sapos a uma máquina eletrostática, e a partir disso, era possível observar contrações nos músculos dos animais. Entretanto, uma casualidade fez com que as perspectivas do experimento fossem alteradas: uma rã estava sendo preparada para um experimento, mas não estava em contato com a máquina eletrostática. Por acaso, um de seus ajudantes aproximou um bisturi ao nervo do animal, e inesperadamente, observou a contração de seus músculos. Esse esquema é representado pela figura a seguir. Depois disso, os experimentos e estudos de Galvani se voltaram no sentido de descobrir de onde era oriunda essa carga elétrica que eles observavam. Para isso, eles variaram os locais do corpo do animal onde o bisturi tocava, a forma com que seguravam o bisturi, os metais que compunham o instrumento.
Cabe aqui salientar que entre os ajudantes de Galvani estava Lucia Galeazzi (1743-1788), sua esposa. Além de auxiliá-lo com os experimentos, ela também traduzia e revisava textos para o cientista. Era muito comum nessa época que as esposas dos cientistas fossem suas auxiliares nas pesquisas, apesar de muito raramente receberem o devido crédito pelos seus feitos.
Para observar a influência da fonte da faísca elétrica, Galvani e seus assistentes testaram o comportamento do experimento utilizando a eletricidade atmosférica de uma tempestade e, como esperado, também houve contração muscular. Mais tarde, eles notaram que até sem a tempestade, apenas apertando a região de contato entre um metal e o sapo era possível provocar as contrações. A partir disso, o cientista supôs a existência de uma eletricidade que seria própria do animal.
Explicando tal constatação, Galvani sugeriu que havia um fluido elétrico presente entre o nervo e o músculo, que quando conectados através de um condutor elétrico, geravam contrações musculares oriundos da movimentação do fluido elétrico. Nesse caso, a parte interna do músculo deveria ser carregada positivamente, e a parte externa, negativamente. Em contato com uma superfície condutora, havia, então, o estabelecimento de um circuito elétrico.
Uma vez que nessa época os estudos voltados ao entendimento da eletricidade e sua influência no comportamento dos corpos dos animais estavam em voga, surgiram muitas hipóteses e tentativas de colocar em prática algumas constatações teóricas encontradas até então. Uma dessas tentativas, idealizada por inúmeros indivíduos, era a de reanimar cadáveres a partir de impulsos elétricos.
Ainda no Século XVIII nasceu Mary Shelley (1797-1851), uma grande escritora, muito conhecida pela publicação de seu livro “Frankenstein”. Na sequência você pode ver uma imagem da autora.
Mary Shelley era casada com um poeta, Percy Shelley, e também era filha de um escritor, William Godwin, e de uma precursora das ideias acerca do feminismo, Mary Wollstonecraft. Sua mãe faleceu ainda quando a escritora era bebê, e sua história está repleta de fatos tristes. Seus estudos eram provenientes de métodos alternativos elaborados pelos próprios pais, o que era considerado bastante revolucionário para a época, em que ainda se discutia sobre a educação feminina.
Aos 15 anos, Mary Shelley fugiu de casa para ficar com o futuro marido, o qual já havia sido casado, mas se tornou viúvo depois que sua ex esposa cometeu o suicídio (nessa época Mary e Percy Shelley já estavam juntos). Mais tarde, o casal perde três de seus quatro filhos, e ainda a irmã de Mary Shelley também se suicida. Além desses acontecimentos, os episódios de traições constantes de seu marido contribuíram para que Mary Shelley se sentisse só e abandonada.
Apesar disso, a escritora mantinha bastante contato com os literários da época, e em um encontro na casa de Lord Byron, o anfitrião desafiou seus hóspedes a inventarem um conto fantasmagórico. Fascinada pelas conversas entre os escritores acerca dos desenvolvimentos científicos mais recentes, que buscavam compreender os corpos animais a partir de impulsos elétricos, Mary Shelley começou a criar a história de “Frankenstein”. Abaixo, você pode ver uma foto de uma das edições do livro.
Na obra, o cientista Victor Frankenstein, proveniente de uma família rica e bem estruturada muda-se para outra região a fim de se formar médico. Por muito tempo, ele se aprofunda muito em seus estudos, e despende um tempo absurdo, trabalhando incansavelmente para a criação de algo que o fará ser imensamente reconhecido: um ser vivo a partir de partes de outros seres vivos. Ele obtém êxito em seu intento, mas a criatura lhe parece tão assustadora por conta de sua aparência, que ele a abandona (veja uma das representações do monstro de Frankenstein a seguir). A partir daí, os eventos fogem às suas expectativas, mas para saber o desenrolar da história, é melhor ler a obra na íntegra!
No livro esse aspecto não é destacado, mas em relatos da autora e em escritos de seus estudiosos, é possível concluir que ela se inspirou na ideia de criação de vida a partir da eletricidade, tão famosa na época. Claramente, esse acontecimento seria improvável, visto que a geração de vida envolve muitos aspectos biológicos que estão além de choques elétricos e contrações musculares. No entanto, é interessante notar a criatividade da autora e a influência da Ciência durante o tempo em que ela escrevia o livro. Uma curiosidade, inclusive, é que muitos consideram “Frankenstein” como a primeira obra de ficção científica.
Além da fonte de vida do monstro, outros pontos muito pertinentes ao universo científico podem ser destacados. Um deles se refere aos princípios éticos do cientista ao pensar principalmente em ser reconhecido por um feito, sem se atentar às consequências que poderia acarretar, e ainda isentando-se da responsabilidade de dar suporte à forma de vida que acabara de gerar. Além disso, podemos falar do preconceito sofrido pela criatura por parte de seu criador, o qual não se interessou em conhecê-la melhor, apenas a julgou maligna por não apresentar os estereótipos comuns às outras formas de vida. Por fim, vale lembrar acerca da não neutralidade da Ciência, considerando que o cientista do livro criou um monstro puramente para satisfazer a uma ambição particular.
Para concluir nossas considerações, voltamos aos estudos de Galvani: depois de publicar o seu livro com as explicações dos experimentos realizados, Galvani foi contestado por inúmeros cientistas, o mais conhecido deles, Alessandro Volta (1745-1827). Para ele, seria necessário levar em conta as características elétricas atmosféricas relativas ao condutor. Além disso, ele considerava que o fluido elétrico gerado seria proveniente do contato entre metais de natureza diferente, sendo o corpo do animal apenas o condutor elétrico. Como Volta era muito influente, principalmente por conta da invenção da pilha (as quais foram desenvolvidas com os estudos de Volta que visavam contrapor os trabalhos de Galvani), as pesquisas de Galvani ficaram um pouco ofuscadas, apesar do brilhantismo e da dedicação.
Esse fato nos mostra algo muito recorrente no meio científico. Muitos cientistas estudam um assunto por muito tempo, e acabam sendo refutados ou desacreditados. Às vezes, eles podem estar certos, às vezes, não. Uma pesquisa científica não parte do nada, assim como Galvani se baseou em outras pesquisas, Volta iniciou acreditando nos estudos de Galvani e posteriormente começou a refutá-los, chegando à ideia da pilha. No entanto, a discussão é fundamental para que cada vez mais possamos chegar mais perto de resultados assertivos. Além do mais, esses resultados nunca podem ser considerados imutáveis ou totalmente corretos, porque estamos sempre mudando, e a Ciência precisa acompanhar essas alterações que acontecem. Por isso, fica a dica para que nunca considerem os fatos científicos como uma verdade absoluta, mas como algo que pode servir nos dias de hoje, mas pode ser completamente alterado e reconstruído mais para a frente.
Esperamos que tenham gostado do post de hoje... Desejamos a vocês um feliz Halloween, com muitas gostosuras e travessuras!
Genial. Vocês, com este artigo, me fizeram enxergar a obra da Mary Shelley sobre um prisma até então não descoberto por mim. Simplificaram a ciência através desta narrativa objetiva, comparativa e cativante. 👏🏼👏🏼❤️