Ao falarmos sobre a ciência e sobre quem a desenvolve, é muito comum pensarmos em laboratórios, vidrarias, equipamentos tecnológicos, com os funcionários utilizando jalecos, óculos de proteção, e fazendo experimentos coloridos, borbulhantes... Às vezes acreditamos que essas pessoas apresentam algumas características e comportamentos peculiares, como os cabelos bagunçados e a solidão. No entanto, é fundamental que nos tornemos conscientes de que a ciência não se resume a trabalhos laboratoriais, e de que os cientistas podem ser qualquer indivíduo, apresentando condutas singulares, ou não.
A mídia tem papel crucial com relação à influência do que pensamos. Ao observarmos os filmes, desenhos animados, séries, entre outros, que trabalham com a imagem dos cientistas e da ciência, podemos notar que muitas representações trazem essa visão distorcida que já comentamos. Na figura a seguir, podemos ver alguns desses exemplos.
Cientistas dos desenhos animados: Laboratório de Dexter, Phineas e Ferb, Meninas Superpoderosas, Johnny Test e Jimmy Neutron. (Fonte:https://paralelas.wordpress.com/2014/02/13/a-ciencia-nos-desenhos-animados/)
Esses cientistas mostrados pelos desenhos trabalham em laboratórios super equipados, geralmente sozinhos, tem ideias mirabolantes e inteligências acima do comum. Há também filmes que nos mostram tal concepção, e não é à toa que temos essa visão de “cientista maluco”. O personagem principal do filme “De Volta para o Futuro” ilustra bem essa realidade.
Cientista do filme “De Volta para o Futuro”. (Fonte: http://www.cienciaexplica.com.br/ociocientifico/criacao-imagem-cientista-pelos-filmes/)
A ciência também tem centralidade na série “Breaking Bad”, sendo o personagem principal um químico que, depois de muitas circunstâncias, decide produzir metanfetamina para aumentar a sua fonte de renda. Não queremos discutir a qualidade e os temas abordados pela série, mas voltar o nosso olhar para como ela traz esses aspectos científicos é importante. Uma questão que se sobressai ao pensar na série, é a questão da não neutralidade da ciência. Muitos acreditam que a ciência e a tecnologia sempre trazem avanços positivos para a sociedade.
De fato, muito do que é desenvolvido pela Ciência tem impacto grandioso para nós, mas a produção de drogas, de armamento químico, de agrotóxicos, também perpassa o progresso da ciência. Além disso, a série traz um cientista perturbado, que trabalha incansavelmente, e que tem bons resultados independentemente das condições de sua prática: seu laboratório foi de um trailer a um porão de fábrica extremamente preparado.
Cena da série “Breaking Bad”. (Fonte: https://outraspalavras.net/outrasmidias/o-inquietante-breaking-bad/)
Mais recentemente, todavia, muitos filmes vêm mostrando histórias mais similares à realidade dos cientistas, como em “Estrelas Além do Tempo” e em “A Teoria de Tudo”.
No primeiro, podemos ver que não são apenas homens brancos que fazem ciência (isso parece óbvio, mas poucas vezes é considerado). As personagens interpretam a história real de três cientistas negras que trabalharam marginalizadas na NASA, na década de 60, até que se fizeram úteis em cargos superiores. Ainda assim, para vencerem o preconceito e alcançarem o devido reconhecimento, batalharam muito. Com esse filme, também é possível perceber que a ciência não é realizada individualmente. Pelo contrário, há sempre um grupo de pesquisa, que trabalha em conjunto, e que dessa forma consegue alçar melhores soluções. Além disso, o ambiente de trabalho dessas mulheres é diferente do que se espera: elas lidam mais com calculadoras, foguetes, papéis, e não trabalham em um laboratório.
Personagens do filme “Estrelas Além do Tempo” em seu ambiente de trabalho. (Fonte: https://cinepop.com.br/novo-comercial-com-cenas-ineditas-de-estrelas-alem-do-tempo-133881/)
O filme “A Teoria de Tudo” conta a história de Stephen Hawking, um importante cientista, que ficou famoso principalmente pelos seus estudos acerca do buraco negro. Esse cientista também pode ser considerado como uma quebra de nossos paradigmas sobre a ciência, visto que ele seguiu seus estudos e pesquisas, mesmo apresentando uma doença degenerativa. O filme mostra a relação do cientista com a família (às vezes pensamos que a vida dos cientistas se resume ao seu trabalho) e também com o seu grupo de pesquisa. Em inúmeras cenas, aparece o orientador do Stephen Hawking, ou palestras e reuniões que ele participou, atividades muito comuns no meio científico.
Cena do Stephen Hawking com seu orientador, em “A Teoria de Tudo”. (Fonte: https://www.ouniversodatv.com/2018/03/canal-universal-exibe-o-filme-teoria-de.html).
Um fato curioso é que pouco tempo após a morte de Stephen Hawking, uma pesquisadora conseguiu finalmente registrar uma imagem do buraco negro, em 2019. Isso mostra como a Ciência está sempre se construindo, e como uma pesquisa nunca finaliza, porque sempre há mais a ser feito.
Além das questões já abordadas até aqui, achamos importante lembrar que existem muitos fatores que influenciam o desenvolvimento científico, como o investimento financeiro, o desenrolar político, o crédito social. Muitas vezes, a ciência é utilizada a favor de quem está no poder. Atualmente, no Brasil, as universidades são responsáveis por mais de 95% das inovações e do avanço científico do país.
Por fim, concluímos que não podemos ter uma visão estereotipada do cientista (e de nenhuma outra pessoa), porque a ciência não tem cor, gênero, etnia ou credo. A ciência pode - e é! - desenvolvida por qualquer pessoa que assim o queira.
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